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Pequenos negócios ganham fôlego com crédito mais barato

Posted by Página do Microcrédito em 6 fevereiro, 2018

Procura por linha com juro mais baixo subiu 5% entre julho e dezembro

SÃO PAULO – Mesmo com o país ainda em recessão, no início de 2017, a cabeleireira Iraci Martins decidiu ampliar seu negócio e montar uma sala de estética ao lado de seu salão de beleza, na Zona Norte da capital paulista. Sem acesso a linhas convencionais de crédito nos bancos, ela conseguiu um empréstimo de R$ 5 mil numa modalidade de financiamento voltada para microempreendedores, o microcrédito. Não foi a primeira vez que ela buscou ajuda nesse tipo de crédito. Para montar o salão, há seis anos, os recursos também vieram do microcrédito, conta:

— O último empréstimo quitei há uns oito meses e serviu para a montagem da minha sala de estética. Agora, vou pegar mais recursos, porque o meu salão foi roubado, tive um prejuízo de R$ 5 mil e preciso repor o estoque.

O mercado de crédito encerrou 2017 com retração de 0,6% nos bancos, segundo dados do Banco Central. Mas as linhas do microcrédito começaram a pegar impulso no segundo semestre. Cresceram quase 5% entre julho e dezembro, de acordo com o BC, na comparação com o mesmo período de 2016. Já o crédito total avançou apenas 0,2% no mesmo período. Este ano, dizem os bancos, o microcrédito deve voltar a crescer nos patamares históricos.

— A maioria dos nossos clientes é do comércio. Eles reagem rápido a qualquer movimento de melhora da economia e buscam mais recursos — diz Alex Araújo, superintendente de Microfinanças do Banco do Nordeste. — E, este ano, com a economia mais forte, estamos preparados para voltar a crescer 15% na oferta do microcrédito.

CUSTO PARA CHEGAR AO CLIENTE

Com juro médio de 2,4% ao mês (as taxas variam de 1,8% a 3%), mesmo patamar do crédito consignado, o microcrédito acaba sendo uma opção mais barata de empréstimo para quem precisa de recursos para empreender. A ex-ambulante Somara Oliveira de Rosa, do Rio de Janeiro, conta que, antes de conhecer essa linha de crédito, tomava dinheiro emprestado com agiotas para comprar mercadorias.

— Eu pegava dinheiro com o agiota, pagava um juro de 30%, e isso me apavorava. Sempre faltava dinheiro, e ele ficava ali do lado da barraca esperando. Até que vi um panfleto de banco que falava do microcrédito. Foi quando resolvi tentar — explica Somara, que se prepara para uma nova operação, de R$ 15 mil, para renovar os estoques.

O primeiro empréstimo de Somara, de R$ 1 mil, foi dividido em seis vezes, com juros de menos de 2% ao mês. O dinheiro foi usado para iniciar a montagem de um salão de beleza. De lá para cá, a agora empreendedora já perdeu as contas de quantas vezes recorreu ao microcrédito, mas garante que ele ajudou na expansão do negócio, que tem também um espaço para venda de roupas e bijuterias. Para ter acesso aos recursos, ela entrou num grupo em que todos os participantes tomaram empréstimos nessa modalidade. Podem ser parentes, amigos ou pessoas com afinidade profissional, e todos são responsáveis pelo pagamento em dia, o que ajuda a reduzir a inadimplência — neste segmento, segundo os bancos, ela gira em torno de 5%.

Um dos fatores que limitam a abrangência do microcrédito, segundo especialistas, é o custo elevado dos bancos para prospectar clientes. Ao contrário da pessoa que toma crédito no caixa eletrônico ou vai até uma agência bancária, no microcrédito, agentes de crédito visitam as localidades para oferecer os recursos. Como o tíquete médio é pequeno, de R$ 500 a R$ 2 mil, o retorno é baixo para os bancos. Por isso, as instituições precisam de escala, além de investir em tecnologia para reduzir custos.

— Mas, com a queda da Selic, a taxa básica de juros, os bancos terão que aumentar seu volume de empréstimos para manter os ganhos. O microcrédito era uma modalidade com risco muito alto e baixo retorno, mas agora se torna interessante para os bancos. Especialmente para grandes bancos, com grande capilaridade, que chegam a regiões distantes do país — observa Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor de pesquisa econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) e estudioso do mercado de crédito.

CRÉDITO PARA CAPITAL DE GIRO

Oliveira lembra que o governo exige que os bancos destinem um mínimo de recursos para o microcrédito para estimular os pequenos empresários. Pelas regras do Programa Nacional do Microcrédito Produtivo Orientado, criado pelo Ministério do Trabalho, em 2005, as instituições financeiras devem destinar 2% dos depósitos compulsórios (dinheiro que fica recolhido no Banco Central sem remuneração) ao microcrédito.

— Os bancos tinham linhas de microcrédito apenas para cumprir a função social exigida pelo governo. Mas, agora, começam a ampliar a oferta de recursos e acabam fidelizando os clientes, que renovam as linhas constantemente — diz Oliveira.

Dono de uma floricultura em Fortaleza, o microempresário Victor Muniz usa as linhas do microcrédito há pelo menos três anos. Renova o empréstimo de R$ 5 mil a cada seis meses e usa os recursos para capital de giro.

— Já tinha procurado outras linhas de empréstimo para capital de giro, mas sempre havia muita burocracia — relata Muniz, cujo empreendimento é formalizado.

BANCOS RENOVAM DE 85% A 90% DAS OPERAÇÕES

Segundo os bancos, o percentual de renovação das linhas fica entre 85% e 90% dos clientes. Lauro Gonzalez, coordenador do Centro de Estudos em Microfinanças da FGV, afirma que, normalmente, o microcrédito aumenta quando a economia está em retração. Já as linhas de crédito tradicionais tendem a seguir um movimento oposto.

— Os dados do microcrédito até agora mostram que ele cresce em uma velocidade maior. Isso faz sentido devido ao modelo que é adotado no Brasil — explica, em referência aos empréstimos em grupo.

Os bancos começam a avançar nessa frente. No Santander, o número de clientes cresceu 38% no ano passado, enquanto os desembolsos subiram 30%, chegando a R$ 800 milhões.

No Banco do Brasil, houve mudanças na operação do microcrédito, e o perfil dos clientes do microcrédito foi reclassificado. Até setembro de 2017, o BB desembolsou R$ 329 milhões. Já no Banco do Nordeste, foram 4,5 milhões de operações de microcrédito, 3% a mais do que em 2016, somando R$ 10,3 bilhões.

Por João Sorima Neto e Ana Paula Ribeiro

Fonte: https://oglobo.globo.com/

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